Não seja rancoroso,
e muito menos renitente,
seja sempre compreensivo,
e não queira bater de frente,
se te faltar com o respeito,
não se faça de indiferente,
nem deixe que te tome as rédeas,
mesmo que seja por um ato inconveniente,
pois, apesar da graça sem valor,
pode ser que haja quem sente,
se a palavra dirigida for assim:
- Cavalo dado, não se olha os dentes!
A docilidade não dá sabor,
quando se embolora a mente,
e a massa fica toda sovada,
num frenesi quase frequente,
é como uma perseguição severa,
com solavancos tão quentes,
que parece entortar a boca,
pra não deixar nada pendente,
e se o sorriso amarela,
pela fala tão intransigente,
apenas reflita, se é assim mesmo:
- Cavalo dado, não se olha os dentes!
Esse adágio tão popular,
representa bem uma vertente,
daquilo que deveria ser furtivo,
apesar de parecer inocente,
mas, dependendo da hora que expressa,
pode machucar e deixar doente,
quem não está tão acostumado,
a fazer parte do expediente,
e, ao ser pego de surpresa,
dá uma risada seca e aparente,
sem saber o que fazer à verborragia:
- Cavalo dado, não se olha os dentes!
Mas, como tudo pode ser remediado,
se a oferta não for indecente,
pode-se trocar o produto,
e não ficar como promitente,
e tome, como bom motivo,
o clamor de toda gente,
que vai se sentir atendida,
pelo gesto tão benevolente,
daquele que, sem querer, querendo,
acabou cedendo, tão contente,
e doando, sem exigir ou bradar:
- Cavalo dado, não se olha os dentes!