Nos olhos dela, vi o paraíso que nunca me foi prometido.
Um jardim onde cada flor exalava o perfume do proibido,
onde frutos dourados pendiam de galhos curvados pelo peso
de um desejo que queimava mais que o sol da manhã.
Tocá-la era tocar o próprio firmamento,
mas também sentir o peso da espada flamejante
guardando a entrada do Éden perdido.
As noites, silenciosas, tornaram-se meu confessionário.
De joelhos diante da escuridão,
rogava a um Deus cujo rosto eu não podia imaginar:
“Por que me deste asas se não posso voar para ela?
Por que plantaste em meu peito este fogo
que consome, mas não purifica?”
Ela era minha estrela cadente,
um lampejo de eternidade numa existência marcada
pela poeira e pela finitude.
Mas cada passo em sua direção
me fazia tropeçar nos espinhos da culpa,
e o céu, outrora tão azul e aberto,
se fechava em nuvens negras de julgamento.
Seus lábios, rubros como o fruto proibido,
traziam promessas de um êxtase que nem o cântico dos anjos
poderia descrever.
Mas ao pensar em tomá-la em meus braços,
eu ouvia o sussurro do pecado serpenteando em meu ouvido,
acusando-me de querer mais do que me foi permitido.
O desejo é uma prece ao contrário,
um eco que ascende ao céu, mas retorna em silêncio.
E eu, preso entre o altar e o abismo,
não sabia se deveria renunciar ao paraíso dos seus abraços
ou abraçar a queda como minha redenção.
Pois quem pode olhar para o céu
e não desejar o infinito?
E quem pode sentir o toque do divino
e não cair, mesmo que por um instante,
na tentação de ser apenas humano?