O som da minha costela se quebrando é agonizante.
Abrir a ferida com o esterno dói mais que um vidro cortando a garganta.
E por mais que a dor seja insuportável e grosseira, é menos pior do que quando te sufocam com o seu próprio sangue.
Então, a janela se quebra, a chuva adentra na casa já com buracos no teto. O quanto é suportável a dor?
A dor é suportável até a menina se jogar da sacada.
A dor é suportável até a água entrar nos pulmões.
A dor é suportável até a queimadura ser de quarto grau.
A dor é suportável até a faca cortar.
A dor é suportável até o tumor se espalhar.
O que a dor é antes de se tornar insuportável?
A dor é a vingança dos anjos revoltados, ignorados por aquele que não os deu uma segunda chance. Irritados com o branco da parede, observando os que pregam, chateados com a cruz.
Mas principalmente, a dor é individualista e egoísta.
E mesmo que eu corte fora a traqueia de uma pessoa viva e consiga come-lá com seu sangue derramando da minha boca, o meu corpo nunca permitiria digeri-lá carregando algum nutriente em que a pertença. Eu apenas levaria a doença e a desgraça daquele humano inexistente, como sentença da minha nojenta e covardia coragem.