Carrego em mim um fardo que não se desfaz,
um pesar antigo, tão denso e voraz.
É o peso das palavras que nunca se vão,
presas no peito, ocultas na mão.
O amor me arde, me queima em segredo,
um fogo que ilumina e veste de medo.
Falta-me o verbo, o toque, o momento,
e perco o que sinto no vento e no tempo.
Já fui mais forte, já soube expressar,
mas hoje me calo, começo a faltar.
Regrido à sombra do que eu era antes,
presa em silêncios, medos errantes.
Falo e temo, ou calo e desfaço,
pois do silêncio também sou meu laço.
Não sei se as palavras serão um abrigo,
ou se abrirão feridas que sangrem comigo.
Como dizer o que em mim é tão fundo,
sem que o outro carregue meu mundo?
Pois, e se ao ouvir, ele parte em segredo,
levando consigo meu amor e meu medo?
Ah, se pudesse, com gestos falar,
desenhar meus sentimentos no ar.
Mas sou poeta do não dito, do oculto,
perdida na dúvida, no meu próprio tumulto.
E assim sigo, errando e buscando,
com o coração nas mãos, pulsando e hesitando.
Pois o amor, tão vasto e tão misterioso,
é um mar revolto, mas também precioso.
Se me calo, me perco; se falo, me arrisco,
e o amor, no silêncio, torna-se arisco.
Mas mesmo hesitante, eu ouso tentar,
pois viver é sentir, mesmo sem acertar.