Ela abriu a porta e lhe entregou as chaves do seu coração sem hesitar, como quem recebe uma visita esperada, sem nada nas mãos. Ele aceitou entrar. Não lhe prometeu nada, como ela sonhou, nem fez declarações apaixonadas, como ela idealizou, mas com a quietude de quem simplesmente está ali. Presente e ausente, em um equilíbrio frágil.
Enquanto o eclipse cobria a lua, eles se fundiram em um instante que parecia eterno. O silêncio entre os dois parecia um acordo tácito, mas talvez fosse apenas a aceitação dela. Entretanto eclipses não duram. Quando a sombra se dissipou e a lua cheia preencheu o céu, trazendo luz à noite, ela percebeu o vazio que restou, como uma ausência impregnada no fundo do seu ser.
Ele partiu sem alarde, deixando para trás uma ausência quase física. Um amor que nunca foi por inteiro, que deixou apenas cicatrizes e mágoas, mas que, de alguma forma, a marcou profundamente. A carência, pensou ela, é um monstro que só ataca quem a alimenta.
Pedro Trajano
opoetatardio
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