Elison Rocha

PreguiƧoso

A preguiça já foi capaz de me presentear

Capaz de despertar o deleite metafísico

E quiçá respostas lúcidas para as minhas inquietações

Ou mesmo versos para este poema torto

 

Quantas vezes eu, tão jovem, desejei não existir?

Deus sabe das vezes em que, deliberadamente, abri mão e decidi desistir

Porque afinal, convenhamos, é cansativo persistir

 

Bom mesmo é profundamente parar

Permitir à consciência submergir, afundar

No sofá

No sono

Ou nos inúmeros sonhos que intrinsecamente nós, seres humanos, cultivamos

 

Eu prefiro simplesmente ocultar-me do todo

Eu pretiro, subitamente, curvar-me ao “todo poderoso”

Eu escolho aceitar as viagens pelo infinito escopo do meu desleixo

Eu desdenho, debocho, rejeito, desgosto, desprezo e odeio

A convenção social de que, obrigatoriamente, devo me encaixar no eixo

 

Minha preguiça vai além da dependência comum pela eterna produtividade

Minha lentidão é o freio crucial para a aceleração exacerbada da sociedade

Minha alma nunca irá acordar

Nunca, com essa ideia de modelar a minha personalidade

 

Nascemos e crescemos crianças atentas, enérgicas

Curiosas quanto ao que nos rodeia, sem rodeios, sem estratégias

E num lapso, adultecemos

Automaticamente

Não percebemos

O quanto neste processo adoecemos

Demarca um colapso

Subitamente

Envelhecemos

Nas imensas metrópoles

Nas loucas e enormes cidades

E então

Eis a questão

Seria a velhice a melhor idade?