A preguiça já foi capaz de me presentear
Capaz de despertar o deleite metafísico
E quiçá respostas lúcidas para as minhas inquietações
Ou mesmo versos para este poema torto
Quantas vezes eu, tão jovem, desejei não existir?
Deus sabe das vezes em que, deliberadamente, abri mão e decidi desistir
Porque afinal, convenhamos, é cansativo persistir
Bom mesmo é profundamente parar
Permitir à consciência submergir, afundar
No sofá
No sono
Ou nos inúmeros sonhos que intrinsecamente nós, seres humanos, cultivamos
Eu prefiro simplesmente ocultar-me do todo
Eu pretiro, subitamente, curvar-me ao “todo poderoso”
Eu escolho aceitar as viagens pelo infinito escopo do meu desleixo
Eu desdenho, debocho, rejeito, desgosto, desprezo e odeio
A convenção social de que, obrigatoriamente, devo me encaixar no eixo
Minha preguiça vai além da dependência comum pela eterna produtividade
Minha lentidão é o freio crucial para a aceleração exacerbada da sociedade
Minha alma nunca irá acordar
Nunca, com essa ideia de modelar a minha personalidade
Nascemos e crescemos crianças atentas, enérgicas
Curiosas quanto ao que nos rodeia, sem rodeios, sem estratégias
E num lapso, adultecemos
Automaticamente
Não percebemos
O quanto neste processo adoecemos
Demarca um colapso
Subitamente
Envelhecemos
Nas imensas metrópoles
Nas loucas e enormes cidades
E então
Eis a questão
Seria a velhice a melhor idade?