Você chegou como o vento que acaricia o rosto,
sem pedir licença, mas deixando cicatrizes leves.
Há em você uma força que não grita,
mas abre fendas — como a luz do amanhecer
rompe o gelo mais antigo.
E, de repente, o mundo desbotado se colore:
menos cinza, menos distante, menos só.
Seu riso? Som de chuva em telhados de infância,
uma memória que ecoa aconchego.
E seu olhar — ah, seu olhar! —
não é para ser descrito.
É como pisar na terra molhada:
firme, mas cheia de abismos escondidos.
Há dias em que sua presença é brisa,
um bálsamo que dissolve cicatrizes antigas,
e outros em que você é tempestade:
um caos necessário,
que me vira do avesso
e me ensina que sentir é sempre um risco.
Você é o paradoxo que carrego no peito:
leveza que pesa,
calma que incendeia,
silêncio que me acorda.
E aprendo, a cada instante,
que o amor não é promessa,
mas o gesto que sustenta o chão.
Sei que às vezes te pinto
com as cores da minha própria alma,
mas não é isso que fazemos com o que amamos?
Inventamos significados
porque o real, sozinho, nunca basta.
E, ainda assim, te vejo inteira:
os medos que sussurram,
as falhas que se escondem como sombras ao entardecer.
Você é feita de manhãs claras e noites densas,
e é no inacabado que encontro a beleza.
Porque amar não é criar perfeições,
é abraçar o que é humano.
No fim, você me ensina que viver é assim:
errar, perdoar,
cair, recomeçar.
E se algo vale a pena guardar,
é o fogo que você acendeu em mim:
não para queimar,
mas para iluminar os labirintos mais escuros.
Assim, eu te guardo:
não como um sonho inalcançável,
mas como o presente que pulsa.
E quando o tempo apagar tudo,
o que restará será isso:
a certeza de que te sentir
foi o começo e o fim de todos os sentidos.