Sezar Kosta

O PESO DA LEVEZA DO AMOR

Você chegou como o vento que acaricia o rosto,

sem pedir licença, mas deixando cicatrizes leves.

Há em você uma força que não grita,

mas abre fendas — como a luz do amanhecer

rompe o gelo mais antigo.

E, de repente, o mundo desbotado se colore:

menos cinza, menos distante, menos só.

 

Seu riso? Som de chuva em telhados de infância,

uma memória que ecoa aconchego.

E seu olhar — ah, seu olhar! —

não é para ser descrito.

É como pisar na terra molhada:

firme, mas cheia de abismos escondidos.

 

Há dias em que sua presença é brisa,

um bálsamo que dissolve cicatrizes antigas,

e outros em que você é tempestade:

um caos necessário,

que me vira do avesso

e me ensina que sentir é sempre um risco.

 

Você é o paradoxo que carrego no peito:

leveza que pesa,

calma que incendeia,

silêncio que me acorda.

E aprendo, a cada instante,

que o amor não é promessa,

mas o gesto que sustenta o chão.

 

Sei que às vezes te pinto

com as cores da minha própria alma,

mas não é isso que fazemos com o que amamos?

Inventamos significados

porque o real, sozinho, nunca basta.

 

E, ainda assim, te vejo inteira:

os medos que sussurram,

as falhas que se escondem como sombras ao entardecer.

Você é feita de manhãs claras e noites densas,

e é no inacabado que encontro a beleza.

Porque amar não é criar perfeições,

é abraçar o que é humano.

 

No fim, você me ensina que viver é assim:

errar, perdoar,

cair, recomeçar.

E se algo vale a pena guardar,

é o fogo que você acendeu em mim:

não para queimar,

mas para iluminar os labirintos mais escuros.

 

Assim, eu te guardo:

não como um sonho inalcançável,

mas como o presente que pulsa.

E quando o tempo apagar tudo,

o que restará será isso:

a certeza de que te sentir

foi o começo e o fim de todos os sentidos.