joaquim cesario de mello

ESPELHO MÁGICO

 

Me vi pela primeira vez

no verde oceânico dos olhos da minha mãe

e lá eu cintilava mergulhado nas águas calmas

nas quais me tranquilizava e de mim espantava

os fantasmas ainda anônimos dos quartos escuros

 

Naquele espelho mucoso e delgado

onde descobri meu inaugural rosto

minhas pernas, minhas mãos e meu corpo

não existia no mundo ninguém mais belo do que eu

 

Na esverdeada imagem em que eu ali estava

parecia ser um sonho convertido em carne

ninado pelo meiguiceiro balançar do colo

em que sempre adormecia sob o abraçar do luar

dos olhos hoje desaparecidos da minha mãe