Entre as brumas do tempo, um grito ecoa,
Vem da terra onde o sol brilha mais forte,
E onde as correntes da história, soltas, entoam
A luta que se faz, no presente, mais norte.
A herança africana, que em nós se dilui,
Tece raízes profundas no chão dessa nação.
Mas o que é nosso, o que é de nossa luz,
É ainda sombra, silenciado em multidão.
São vozes que se calam, que não se escutam,
São histórias que se apagam, mas não se extinguem.
No ventre da Bahia, no suor de Minas,
Nos corpos dançantes, mas que nunca se erguem.
E o desafio não é só relembrar o passado,
É entender o que a memória tem a ensinar,
É romper o silenciamento do negro, marcado,
É dar ao povo sua herança, e o direito de brilhar.
Mas o que é Brasil sem a força da África?
Um corpo sem alma, sem pulsar, sem chão.
É preciso ver o que nos une, sem farsa,
E erguer a herança que forjou nossa nação.
Como em um samba, a batida ecoa,
A luta por espaço, a dança da coragem.
Quem cala, resiste, mas quem canta, voa,
E a África em nós será sempre a nossa margem.
O desafio é de todos, é de todas as vozes,
É de quem reconhece a dor e a beleza.
É de construir juntos as mil escolhas
De uma história que precisa de sua grandeza.