No princípio, havia o silêncio.
Um deserto sem nome,
Onde o vento, como mãos invisíveis,
Acariciava memórias já esquecidas.
A alma, nua e solitária,
Vagueava entre ruínas,
Tateando a escuridão,
Buscando algo —
Tão distante quanto o horizonte.
O amor era uma chama apagada,
Que dançava frágil, ao vento.
Uma esperança murmurada,
No peito cansado, como uma prece.
Um pulso que pedia a vida,
Na quietude do existir.
Então, veio o toque,
Não de mãos, mas de uma brisa,
Que atravessou as sombras,
E costurou as feridas do ser,
Com um fio de luz,
Como o amanhecer, tímido e gentil,
Sem pressa, sem alarde,
Só um sopro que aqueceu o peito
Ainda gelado pela noite.
O amor não exigiu, não se impôs,
Apenas se derramou,
Como chuva suave,
Sobre as rachaduras da alma seca.
E onde antes havia vazio,
Brotes de flores surgiram,
Cada pétala uma promessa de cura.
O amor não precisava de corpo,
Era vasto como o céu,
Profundo como o mar.
Uma melodia que dançava,
Entre os pensamentos e os sonhos,
Uma luz se infiltrando,
Iluminando os cantos esquecidos,
Onde a sombra ainda morava.
Trouxe consigo a coragem de sentir,
De olhar as cicatrizes não como marcas,
Mas como mapas da beleza,
Que o coração, ainda pulsante,
Guardava em segredo.
Não apagou a dor —
Transformou-a em poesia.
Agora, o vazio era pleno,
Não de ausência, mas de paz.
O amor construiu seu refúgio,
Feito de silêncio e harmonia,
De palavras não ditas e olhares invisíveis.
E o coração, antes quebrado,
Descobriu que não precisava ser inteiro
Para ser capaz de amar.
Porque o amor não é posse,
É partilha.
Não é presença,
É conexão.
E o que antes era escuridão,
Agora era um céu estrelado,
Onde cada estrela trazia consigo
A memória do amor que transformou
A solidão em constelação.