Era estranho como, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda me pegava esperando. Todos os dias, a todo momento, havia aquela pontada de expectativa. Talvez fosse irracional, mas algo dentro de mim insistia em acreditar que ele apareceria de alguma forma. Um simples “oi” numa mensagem. E, quando o silêncio persistia, a frustração se sentava ao meu lado, como uma velha conhecida, enquanto a ansiedade abria a porta e fazia questão de dar seu habitual alô.
Não houve um único dia, desde o fim, em que eu não sentisse sua falta. Não era um sentimento avassalador o tempo todo, mas estava lá, firme, uma brasa que nunca se apagava por completo. Passei semanas tentando entender o que exatamente doía. A ausência do que não construímos juntos? A falta de dividir os dias, as noites, os pequenos detalhes que só faziam sentido para nós? Seria apego, esse nó difícil de desatar? Ou seria algo mais genuíno, profundo, impossível de nomear?
A verdade é que ele continuava presente em tudo. Mesmo depois, enquanto desbravava uma nova fase em minha vida, ele aparecia nos detalhes, nas pequenas coisas que, por algum motivo, não conseguia apagar da memória. Olhar as opções de jogos na mesa da nova sala sempre me fazia lembrar das vezes que passávamos jogando juntos, discutindo estratégias e rindo das pequenas disputas que surgiam. Preparar o café da manhã era um desafio — nenhuma receita era capaz de reproduzir o sabor e a leveza dos scrambled eggs que ele fazia tão naturalmente.
E à noite, quando o silêncio finalmente tomava conta de tudo, havia mais um travesseiro. Novo, intacto, mas insuportavelmente vazio. Aquele objeto parecia ser um lembrete cruel de que ele não estava mais ali. Olhar para aquele espaço ao meu lado era como se, todas as noites, o silêncio sussurrasse a verdade que eu tentava evitar: ele ainda estava em mim.
O que eu queria, acima de tudo, era que ele estivesse aqui. Não para preencher um vazio, mas para fazer parte de uma nova fase. Compartilhar as pequenas conquistas do dia, as descobertas, os sonhos, os aprendizados e até os erros. E eu também queria estar lá, para conhecer suas novas histórias, entender suas mudanças, admirar seus passos e até mesmo apoiar suas quedas.
Era um desejo que ia além de reconciliação; era um chamado para sermos, juntos, as versões mais autênticas de nós mesmos. Porque, apesar de tudo, havia em mim a certeza de que nossas histórias, por mais que seguissem por caminhos diferentes, ainda guardavam capítulos que poderiam ser escritos a quatro mãos. Algo que fosse tão real e sincero quanto o desejo que ainda sentia de tê-lo por perto.
O espaço que ele deixou não é apenas um vazio. É um eco, uma lembrança viva do que fomos. Do potencial que poderíamos ter sido. E, enquanto olho para o travesseiro ao meu lado, respiro fundo. Por um instante, quase consigo vê-lo aqui. E talvez, só por hoje, isso seja o suficiente.