Fiquei sabendo que você está com um cara bacana; ele tem um bom emprego e um carro daora. Seus pais devem amá-lo. Fiquei sabendo que você o ama; tudo bem, querida... tudo bem. A dose dupla de sorte.
Eu parei de trabalhar para cuidar da minha mãe, que está doente, mas continuo lendo meus livros. Ainda ando de táxi. Envelheci, querida; naquele dia, doeu muito, mas agora percebo que nunca te amei; apenas achei que você era alguém que nunca existiu. Doeu muito cair na realidade; doeu porque foram anos de coragem para um fracasso óbvio.
Naquele dia, eu usei o melhor traje; esperei você... esperei. Bom, comi o melhor cachorro-quente naquela noite e dancei... dancei com a melhor parceira de dança: a dor. Ela me fez companhia; ela foi tão gentil que me levou até em casa.
Ah, querida, eu nunca fui visível a você. Eu notei suas dores e seus anseios e fiz um remédio para tentar sarar a dor da sua alma. Preparei até um colo para ouvir seus lamentos, mas esqueci que era a minha alma que estava machucada.
A sua realidade sempre foi um privilégio para você, querida; a minha sempre dura e crua, onde as marcas da minha vida sempre foram resumidas em calos e sacrifícios.
Creio que você ama ele; fico feliz, querida. Você encontrou alguém para amar, alguém para ser feliz, alguém para cuidar e ser cuidada. Você sempre foi sortuda, querida. Eu notei isso quando você disse \"oi\" naquela segunda-feira de manhã no 4º ano e notei no sábado à noite, com 19 anos, que o privilégio dessa sorte não era para todos, não para mim. Envelheci e ainda percebo que continuar com a mesma sorte.
Seja feliz, querida. Talvez um dia eu encontre um trevo de quatro folhas e assim não precisarei dançar mais com a dor.