Sezar Kosta

O AMOR É ISSO (O SOPRO DA ETERNIDADE)

Ela fechava os olhos

não por cansaço,

mas como quem ouve uma prece.

Era um ritual silencioso,

um gesto de quem entende que a beleza

não se entrega ao olhar distraído,

mas escorre por entre os sentidos

como água que corre pelas mãos.

 

Lembro daquela tarde —

o céu vestido de ouro líquido,

as árvores dançando em murmúrios.

E ela, imóvel, com as pálpebras cerradas,

permitindo que o sol tocasse sua pele

como se ali houvesse algo mais que calor:

uma conversa muda entre a luz e a alma.

 

Eu, à sombra do instante,

vi algo que nunca soubera buscar:

o universo cabe no menor dos gestos

quando a vida é vivida com olhos fechados.

E percebi que o amor não grita,

ele respira em detalhes:

o voo hesitante de um pássaro,

o brilho primeiro de uma estrela,

a despedida de uma folha.

 

Ali, naquele crepúsculo,

aprendi que o efêmero não morre —

ele se dissolve em eternidade

no peito de quem o sente.

Porque amar é isso:

dar ao instante a imensidão que ele carrega,

como o vento que, em seu sopro breve,

traz consigo a memória de toda uma vida.