Ela fechava os olhos
não por cansaço,
mas como quem ouve uma prece.
Era um ritual silencioso,
um gesto de quem entende que a beleza
não se entrega ao olhar distraído,
mas escorre por entre os sentidos
como água que corre pelas mãos.
Lembro daquela tarde —
o céu vestido de ouro líquido,
as árvores dançando em murmúrios.
E ela, imóvel, com as pálpebras cerradas,
permitindo que o sol tocasse sua pele
como se ali houvesse algo mais que calor:
uma conversa muda entre a luz e a alma.
Eu, à sombra do instante,
vi algo que nunca soubera buscar:
o universo cabe no menor dos gestos
quando a vida é vivida com olhos fechados.
E percebi que o amor não grita,
ele respira em detalhes:
o voo hesitante de um pássaro,
o brilho primeiro de uma estrela,
a despedida de uma folha.
Ali, naquele crepúsculo,
aprendi que o efêmero não morre —
ele se dissolve em eternidade
no peito de quem o sente.
Porque amar é isso:
dar ao instante a imensidão que ele carrega,
como o vento que, em seu sopro breve,
traz consigo a memória de toda uma vida.