novaesjaninel

Solidão em partes

                   

A solidão não é como uma ilha, está mais para o oceano.

Não é a luz, é a escuridão que a preenche.

Dentro da mente, pode ser de qualquer forma:

Uma cova, uma caverna, um quarto,

Mas não se limita a um espaço.

Cabe uma multidão onde sobrevive o solitário.

Sem foco, ser sozinho é não enxergar o outro, talvez por descuido...

Sem pouso, quem por ele passa, atravessa o vazio, sem matéria para ser compartilhada.

A luz que chega por frestas, projeta as sombras do distorcido mundo do ser acorrentado a seu próprio ego e sem eco.

Perturbando a ordem de quem deseja o outro ausente, o solitário se vê cercado de um monte de gente com quem colide, caso se movimente.

Ser solitário é ser sedentário e não há raízes que o segurem, ao contrário.

Dentro de um abrigo lacrado contra o outro, não há mão e nem chuva que regue o que o ser sozinho planta.

Terreno árido é a alma que se entorpece de outra alma que se pretende inerte e isso implica muito atrito.

Quanta energia se perde ao tentar parar o movimento natural do mundo. De fato, o solitário está sempre cansado.

Quanto sofrimento e dor, o ser sozinho se infringe ao tentar de evitá-los. Conclui-se disso, sente-se sempre ferido e ressentido.

Faz como muitos outros: escolhe uma máscara e segue por alguma estrada.

Encara o encontro com o outro tão carente a quem se apresentou negligente e indiferente. Vê as feridas e as cicatrizes infligidas por ti enquanto se fez ausente?

Invisível é a ternura, humildade, responsabilidade, aos olhos de quem julga.