Não quero escrever um poema sobre o amor
O mundo é amargo demais para mais um poema de amor
As vezes parece mesmo que consigo enxergar a verdadeira face das coisas
Um cristal límpido de incomparável beleza e dor
Uma dureza de pedra em delicado prisma
Múltiplo na decomposição da dor
A verdade é que a doçura ritmada dos versos alegres me embrulha o estômago
Então recorro a correnteza profunda do rio
As águas turvas engolindo as margens
Ao mar , ao mar escuro do inverno
Prefiro então a flor danificada
Jogada com seu silêncio na calçada fria
Minha Beleza orgânica inequívoca
E essa tentativa de ser angelical
De ser pura ausência de defeitos,
é antes o sinal preciso do vazio
É a noite rasa que recusa a treva imensa
Minha tristeza brilhante apunhalou a esfera luminosa do sol
Agora sou pleno por saber da dor imensa
que goteja no minúsculo poro
Na composição química da lágrima
No sibilo nascente do campo vazio
É o que sinto
É quando você vai embora
E me olha esquiva
Mas nada diz
O mundo é amargo demais para mais um poema de amor