Sezar Kosta

ALÉM DA MIRAGEM

Dizem que a felicidade é um oásis distante,

promessa de água que dança no horizonte.

Para alguns, ela cintila entre as dunas dos dias,

um sonho que espreita o real;

para outros, apenas um vulto,

breve chama que aquece o peito

e se dissipa na brisa.

 

Em desertos e vales a procurei,

nos dias de sol ardente e passos pesados,

nas noites frias de silêncio e céu imóvel.

Tão próxima quanto uma miragem ao toque,

sempre um passo adiante, um esforço mais.

 

Felicidade — ornada de luz frágil,

feita de detalhes que aquecem e dissipam,

recua, desliza,

como se soubesse que seu encanto

é viver no não-pertencer,

no brilho etéreo de quem não se retém.

 

Foi então que percebi sua natureza leve:

é menos chegada e mais guia,

uma estrela que indica o caminho,

mas se dissolve ao toque.

Talvez seja o perfume inesperado das flores,

o azul profundo do céu ao entardecer,

a suavidade de um vento esquecido.

 

Neste deserto de ilusões e esperanças,

não importa alcançar o oásis distante;

importa a miragem que se projeta,

a inspiração que colore cada passo.

No fim, a felicidade não pede captura —

basta aprender a contemplá-la,

mesmo que só em seu reflexo breve,

delicada e infinita como o horizonte.