Gustavo Cunha

Quietude

O dia já se inicia austero.

Dir-se-ia que o silêncio mudou o mundo.

Fê-lo mais receptivo; sorumbático, talvez.

Quisera eu que todas as manhãs fossem assim:
       

Reais e insondáveis.

As almas repousam, repousam profundamente.

Na robustez do sono implacável,

Na hiper-realidade do onirismo inefável,

Na inebriante volúpia da Graça.
     

  As almas repousam...
      

As almas repousam...
           

    Todavia,

A manhã traz consigo a chuva.

E as minhas pálpebras pesadas

Não suportam o peso das lágrimas.
     

  Cerram-se: dor, lamento.

Não ouço vozes.

Risos também não.

As almas repousam, meu Deus, as almas repousam,
       

Profundamente.