Ela tinha olhos negros, mas alma límpida e clara.
A menina rosada, meus olhos sempre agradava.
Seu lindo sorriso trazia uma paz que eu almejava.
Sempre andava com requinte, junto à sua arara.
Nos campos, colhia frutos, e meu coração por ela palpitava.
Sempre que recitava seus versos, meu mundo clareava.
Ela era a rainha do mato; eu, um roceiro que vivia do nada.
Filha do estelionatário, seu calçado parecia um desejo da manada.
De longe, a via ser desejada por tantos; inalcançável.
E, em meu peito, ardia um amor... tão impensável...
Um homem pobre e infeliz jamais seu coração tocaria.
Num silêncio mudo, só observava e sempre sofria.
Mas o tempo é um rio que leva e também traz o mistério.
E, nas margens da vida, um reencontro em um cemitério.
Hoje, vejo-te em teu vestido preto, puro e radiante.
Fugimos do mundo seco; a glória nos envolve brilhante.
Enquanto me uno a ti, declaro, sem peso ou temor,
Que no riso guardado em teu olhar encontrei meu único amor.