Quando nasci não me deram um nome
deram-me um destino
Cresci condenado a ser Joaquim
todavia não o Joaquim dos outros
como o Joaquim da padaria
o Joaquim filho da Manuela
o Joaquim da Bahia
o Joaquim do sertão
o Joaquim de Lisboa
o Joaquim de Angola
ou o Joaquim dos livros de História
Sou o Joaquim que a vida me trouxe
um Joaquim calado que às vezes esperneia
um Joaquim tão largo que se estreita
um Joaquim domesticado, pero no mucho
um Joaquim que não fica parado
inquieto, afoito e abusado
que tem medo de assombração e de barata
que dobra as esquinas e segue em frente
que lambe suas feridas sozinho no quarto
um Joaquim acostumado a ser Joaquim
Há tantos Joaquins no mundo
que lá no céu
não pode haver lugar
para tantos Joaquins
Que me desculpem os demais Joaquins
mas nunca houve e jamais haverá
um Joaquim como o meu Joaquim