joaquim cesario de mello

JOAQUIM

 

Quando nasci não me deram um nome

deram-me um destino

 

Cresci condenado a ser Joaquim

todavia não o Joaquim dos outros

como o Joaquim da padaria

o Joaquim filho da Manuela

o Joaquim da Bahia

o Joaquim do sertão

o Joaquim de Lisboa

o Joaquim de Angola

ou o Joaquim dos livros de História

 

Sou o Joaquim que a vida me trouxe

um Joaquim calado que às vezes esperneia

um Joaquim tão largo que se estreita

um Joaquim domesticado, pero no mucho

um Joaquim que não fica parado

inquieto, afoito e abusado

que tem medo de assombração e de barata

que dobra as esquinas e segue em frente

que lambe suas feridas sozinho no quarto

um Joaquim acostumado a ser Joaquim

 

Há tantos Joaquins no mundo

que lá no céu

não pode haver lugar

para tantos Joaquins

 

Que me desculpem os demais Joaquins

mas nunca houve e jamais haverá

um Joaquim como o meu Joaquim