joaquim cesario de mello

AGORA QUE TODOS ESTÃO MORTOS

 

Agora que todos estão mortos

apenas eu me lembro do menino

 

No cemitério mal-assombrado

em que se tornou minha infância

fantasmas teimam em não morrer

 

Na fantasmagoria dos anos inocentes

bailam espectros remotos de gente

aprisionados no fundo escuro de mim

 

De tudo aquilo que um dia vi

não sabia eu que desapareceria

como assim se foram meus brinquedos

neus tios

Miné

o cachorro Rex

a filha zambeta do zelador

os álbuns de selos

o par de sapatos tamanho 32

a fantasia de Bat Masterson

meus pais

e eu mesmo entre eles vivendo

 

Se a infância de mim se foi

apenas restou a casa da minha avó

mas ela hoje está oca por dentro