Leonardo Ramos

Devaneio

Devaneio

 

 

Dou alguns passos calado em um dia cinza,

Copacabana grita e explode em alegria,

Mas não me desperta.

No caminho, em meio a noite fria,

Reconheci Bentinho e os cães vagabundos

Em uma sombra que passou por mim

No alto da praia do Flamengo.

 

Nas mãos, o veneno da vida,

Pronto para se atirar e destruir o que nela se vive.

Na cabeça, alguns olhos dissimulados

E arrependimentos excessivos,

Daqueles que deprime os que já, por natureza,

Morrem de saudades.

 

O mar tornou-se mudo,

ou, com a distração que vinha comigo,

Não o notei até que me molhasse os pés.

Lá no horizonte a extensão do mundo

Me diminuía a cada vez que o encarava.

Em cada serra acinzentada,

Em que meus olhos repousavam.

Em cada navio desaparecendo no horizonte

Aonde meus olhos, recordando dos teus

Perderam-se tristes e silenciosos.

Meu amor, o mundo é grande,

mas está doente.

 

Leonardo Ramos