Flavio Eduardo Palhari

ATONIA

será que a faca cega procura ler a dor em Braile

entre os pergaminhos da pele

entre as escritas da carne

será que o silencio busca dar um pouco de paz ao grito

entre os nós de uma garganta

entre os ecos de um abismo

 

eu não me lembro dos meus sonhos e o meu sono se encontra entre espasmos 

se eu não mexo nenhum músculo eu me prendo a um tempo certo e um espaço

com os pés no chão o meu céu não cai

com a cabeça nas nuvens a terra sobressai

nada mais faz sentido ou tem razão se o coração se cansa de amar ...

terá uma chance ou não de encontrar um caminho

cada olhar perdido entre flertes

cada sorriso sem graça e sem brilho

terá o dia esperado a noite por ter fome e sede de destino

como uma puta que nega um beijo

como um sem teto querendo abrigo

às vezes eu me pego caminhando a esmo entre os meus muitos estragos

nesse meu quebra cabeças minhas peças às avessas nem sempre se encaixam

se essa dor se expande e me distrai

serei eu mesmo o que me honra e me trai

nada mais faz sentido ou tem razão se o coração se cansa de amar ...