Binho (Luiz Herbet Cezario)

Água de chuva

     Era dia e não o era completamente, por causa das nuvens pesadas no céu.
O sol eu não via e chovia. Fui atraído para o quintal por razões ainda desprovidas de explicações para mim. Havia magnetismo nas gotas que caiam e eu fui. 

     Não demorou muito, tirei a roupa meio molhada, senti a grama empapada sobre meus pés. Naquele momento também começou a chover dentro de mim,
e a minha chuva se confundia com sua.

     Eu fechava os olhos e tinha ali no escuro das pálpebras fragmentos de imagens.
Sons de sorrisos de gente na chuva, de passos correndo.  A atmosfera dos banhos de chuva que tomei quando era menino, de quando você ainda vivia entre nós e também ia para chuva, de biqueira em biqueira, buscando a sensação de cada uma, buscando uma para ser sua e outra para aquele balde enorme preto que serviria para armazenar a água que era sempre escassa. 

     E os pássaros voltaram a cantar e eu também.
E as nuvens foram dar voltas, um dia elas voltam.