O que mais dói -
é a incerteza da alegria,
a inverdade das conversas,
o silêncio das atitudes,
o distanciamento do pensamento,
a falta de consideração,
a perversidade dos pesadelos,
a inconstância dos sonhos,
a confusão das ideias,
a incoerência dos fatos,
o resumir na solidão.
Mas, também, dói muito -
a desfaçatez dos predicados,
a sujeição ao emburrecimento,
a imparcialidade dos conceitos,
a ausência dos adjetivos,
o resultado das artimanhas,
a convicção do infortúnio,
o estratificar das vontades,
a consolidação do secundário,
o invalidar da razão,
o perpetuar da mentira.
E, dói, mais ainda -
a não sobriedade do mundo,
o sintetizar dos malfazejos,
o coroamento da degradação,
a fecundidade da baixaria,
a desconstrução dos propósitos,
o estagnar da confiança,
o depauperar do respeito,
a possessividade do descontrole,
a vitória da degeneração,
o consentir da inutilidade.
E dói, bastante, sem quantia -
a imparcialidade dos pormenores,
a fragilidade da resiliência,
a insubordinação da credibilidade,
a periculosidade da decisão,
a insensibilidade da retidão,
o condicionar da conduta,
a pirotecnia do socializar,
a importunação do transgredir,
o descaramento do embuste,
o discriminar tão ofensivo.
E, dói, forte e profundamente -
o ansiar incessante pela empatia,
o ser invadido pela perplexidade,
o insistente equívoco de sabujice,
o confronto das possibilidades,
a resistência ao bom conselho,
a impetuosidade da teimosia,
o não ter o mínimo de compreensão,
o desgarrar do caminho reto,
a ingerência na intimidade,
o escarnecer da opinião tomada.
E, por fim, rói, dói e destrói -
a rejeição ao abraço,
o desarme ao carinho,
a desafeição ao sorriso,
a estridência da resposta,
a negação à convivência,
o ser tratado como indigno,
a indelicadeza da presença,
o não ter espaço para se situar,
a batida inflamada de um coração desamado,
a falha humana do não saber expressar.