Nasce o dia, dizem os sons pela janela,
mas dentro, o silêncio pesa em camadas de
sombra entranhada, onde a aurora fenece,
e a carne, ao recordar, se esfacela.
Não há \"bom dia\" a aquecer minha costela,
só o vazio onde teu rastro espreita,
espelho de um abraço que não se deita
e do perfume etéreo que minha pele revela.
Visto um sorriso, qual manto tecido,
feito de coragens que costuro sem crer,
desfilo solene em casaco fingido,
enquanto em cada passo há algo a doer.
A dor alucinante que queria, fosse tênue,
se esgueira, no entanto, sutil e voraz,
entre nervos e vértebras, grita em silêncio,
como quem ama e sente, mas nunca diz mais.