O vazio da casa se enche de ausência.
Teu olhar, teu fluxo, sua presença.
Hoje é um dia de chuva.
Pela saudade que cultua.
Eu vejo você em todos os cantos.
Você espalhando seus pelos brancos.
Os arranhões na poltrona do sofá.
Meu deus, onde você está?
A mesa de vidro, onde você deitava.
Os fios de lã os quais você brincava.
Cada canto da casa que a memória me traz.
Um pingo de realidade a desfaz.
Às vezes eu imagino, numa manhã qualquer.
Você volta para mim do jeito que você é.
Seu corpo ainda está inteiro no amanhecer.
Sem feridas, nem sangue a escorrer.
Eu te pego nas mãos para te ver.
E você não seria o mesmo, não poderia ser.
Porque você é apenas uma coleção.
De memórias que nunca se apagarão.
Eu agradeço por tudo que você era.
Até por aquela mordida que não doera.
Por tudo que contigo eu suportei.
E pelo que nunca mais esquecerei.