Sezar Kosta

MORADA DO SILÊNCIO

Amar é mais que gestos que se perdem no vazio,

mais que lágrimas varridas pelas madrugadas,

seja por raiva ou saudade.

 

Amar é entrar em silêncio,

é sentir o cheiro do outro, o calor do corpo,

no abraço que faz o coração saber onde mora.

O amor não se define, nem se mede ou explica —

ele acorda o corpo, desperta a pele,

vive e respira em cada batida sem nome.

Quem tenta explicar o amor, não ama.

 

Eu poderia falar de tudo,

do que é terreno ou do que é céu,

mas sem amor, de que vale a palavra?

Só quem ama conhece o real,

tornando-se puro, bondoso, invisível

como o calor que nunca se vê.

 

Amar é uma dor que não dói na carne,

mas na alma que se alegra e se entristece,

numa dança entre o doce e o amargo.

 

É querer estar perto,

mesmo na solidão,

é celebrar uma perda,

é escolher o outro antes de si,

viver com fidelidade em meio a contradições.

 

Enquanto tudo parece cinza,

o amor colore.

Quando o horizonte se quebra,

é o amor que nos devolve a visão.

 

Quem ama encontra a paz

que o mundo insiste em tirar.

Amar está no riso compartilhado,

no abraço que dissolve qualquer medo,

nas borboletas que fazem do encontro

uma dança única e insaciável.

 

Amar é o que faz o comum,

extraordinário.

É ver no outro o que em nós faltava,

e achar a calma onde o mundo é tempestade.