CORASSIS

Cotidiano

A ferida latente
vermes invisíveis que corroem demais
possibilidade de fuga ausente
das ruas interditadas por surpresas do céu
a gaiola se tornou jaula universal

Visão cega de homens imponentes
para quem sofre a míngua e carente
e quem não idolatra a mão do carrasco
há chicotes para muitos açoites
que já estão preparados!
Deus seriam tantos pecados?

Guerra, guerra, guerra
da tua mão não há ternura
retirasse o beijo de minha amada
da mãe que não consegue mais contar histórias aos filhos
pintados com cinzas do horror

A cova terá medidas profundas?
Estará abaixo dos covardes
A quem se filia a tudo isso
com extrema bravura

Alegria em New York, New York
a quem se maravilha colecionando lojas para ignorar a dor
e muitos contracenam no espetáculo de glamour, luzes e Prada
Na ONU trabalham como o bicho-da-seda
a quem se afilia a tudo isso com extrema ternura
E de fato a paz: nada

Vejo na agitação da gigantesca
baldeação do metrô
humanos acelerados
tenho tristeza e nostalgia
de um senhor de bengala e passinhos bem moderados

Vida, vida, vida
ainda vale muito a pena ?
Entre guerras e muitos edifícios
e a fome de muitos mendigos
sei lá
que peso tem essa  sentença?

É uma roda gigante que não me deslumbra.