Paz a Jerusalém!
Ó, cidade entremontes, imortal,
que teus ventos soprem além,
e seja guardada de todo mal.
Tuas belas vielas mui antigas
são caminhos que levam ao paraíso,
tua voz, teu poema, tua cantiga,
são como brados do Dia do Juízo.
Como tu és esplêndida!
És a Cidade de David e da sua descendência,
por aliança do Senhor,
do Deus de magnificência.
Tuas torres são espadas do rei da terra,
és bravia, insigne, veloz na guerra,
ó, casa de guerreiros! Nação de melancolias!
Teus simples seixos, ruína de Golias.
Quantos homens teus deitaram
nos teus conflitos, tuas pelejas?
Tantos quanto as areias do mar tombaram,
e como estrelas do céu ornam as igrejas.
Ó, Sião bélico! Ó, Sião das lanças!
Disparas ao céu torpedos
e a quem estenderes as mãos, alcanças.
Que custou teu Templo de Paz?
E a tua sabedoria, teus livros, tua oração?
Nada mais lhe apraz,
ferido é teu coração.
Tuas lágrimas sanguinolentas
semeiam corrupção na terra,
teus filhos revoltados
arrebentam os grilhões, derrubam a serra,
empurras teus irmãos para as praias,
odeias a Gaza, a Ascalão!
Tu, que plantas tormenta,
colherá a destruição.
Teu sagrado monte hoje chora,
quem seu pranto há de consolar?
Certamente quem venceu a morte,
e morrendo venceu sem pelejar.
Semeias bombas nas Oliveiras,
e fere aquelas de colo,
mas ai de ti! Virá o dia,
em que do céu pés fenderão o solo.
Haverá o dia em que mísseis serão flores;
e teus guerreiros, pastores;
tuas ruínas, palácios,
e teus lamentos, amores.
Paz a Jerusalém!
Todo olho O verá,
toda língua há de dizer,
e toda alma exultará!