Poeta por acaso
TRANQUILIDADE
TRANQUILIDADE
Minha busca pela tranquilidade
(não sou madraço, que Deus me guarde)
É pela manhã. Não, acho que pela tarde
Hum! não é não. Pela noite, eu diria
Necessito de paz, um pouquinho por dia
Pra correr atrás de inspirar u\'a poesia
Pois, de manhã, ainda escurinho
Chilram em bandos os passarinhos
Frenagens, buzinas, de carros vizinhos
Dalém da janela descortinada,
Ao disse-que-disse da mulherada,
Se juntam crianças na minha calçada
À tarde passeio e espicho o passo
Prédios e sombras dão fuga ao solaço
Na fila do empório reclamo espaço
Amigos nos bares exploram tristezas
Canções, nostalgias, ruínas, belezas
A vida é hoje, o amanhã, incertezas
A praça\'onde vou é um mundo isolado
Só quem curte a si, no banco assentado
Na tela do Smart, um rosto filtrado
Balangos ao vento, bailam sózinhos
Sem colo dos pais, brinquedos, carinhos
Crianças evitam brincar nos parquinhos
À noite, eu penso, que é o turno exato
Pra que busque a paz de modo sensato
Aos ladros de cães e miados de gato
Ainda que a mente reclame quietudes
Reencontro com a paz nas solitudes:
Introspecção das minhas virtudes
Na madrugada já entregue ao sono
Lembro Allan Poe, meu poeta Patrono
Hospeda o corvo solitário, sem dono:
- \"Ia pensando, quando ouvi á porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
«É alguem que me bate á porta
de mansinho;
«Ha de ser isso e nada mais.»
(Poeta por acaso)