Vasco Alberto

Espero não morrer amanhã

Espero não morrer amanhã,
não por medo do fim,  
mas porque ainda há tanto por fazer,  
tanto por entender  
no que deixei por começar.  
  
A vida não nos espera,  
mas eu espero dela um instante a mais,  
uma pausa onde possa ver,  
sentir a fundo o que o tempo levou  
sem que eu notasse.  
  
Se amanhã fosse o fim,  
quantas palavras não teriam sido ditas?  
Quantos dias ficaram pela metade  
por acreditar que havia mais tempo?  
Esperamos sempre por um depois.  
  
Mas viver é agora,  
é este segundo que passa sem aviso,  
e, no entanto, adiamos  
como se houvesse garantia  
de voltar a ele.  
  
Espero não morrer amanhã,  
mas se for, que leve a certeza  
de que vivi ao menos o bastante  
para saber que a vida  
é, por si só, o maior presente.