joaquim cesario de mello

UM ARMÁRIO QUASE LOTADO

 

Estou me entupindo de lembranças

e o que é curto em mim vai ficando longo

 

Na neurogênese da minha memória

ainda cabem muitos neurônios novos

no entulhar das experiências que passo

 

Na semântica gramatical do que vivo

vou me anotando como se escrevesse um diário

em caligrafias escritas com tintas de afetos

 

Sei que sou eu quem me lembro

urdido no entrelaçar de episódios e eventos

onde venho me construindo antes de me lembrar

 

Sobre escombros de um passado que já se foi

edifico-me em pilastras a sustentar meu presente

que logo se acumulará no armário de quem sou

 

E assim vou me abarrotando de mim

no atulhar das minhas incompletas lembranças