Sinto saudade de escrever,
De compor poemas triviais,
De registrar coisas insignificantes,
Até mesmo,
A saudade de expressar o peso do mundo que carrego em mim.
Sinto falta de escrever listas de compras,
De anotar uma data naquele diário um tanto bobo,
Perdido no fundo de alguma gaveta do meu quarto,
Guardando segredos que só a mim pertencem.
Há quanto tempo não tenho segredos só meus?
Em um mundo repleto de ansiedades,
Será que não ter o que dizer é um alívio ou um peso?
Ah... que saudade de escrever,
De compor um poema de amor,
Apesar do meu grande amor já ser correspondido.
Gostaria de saber escrever sobre outras coisas,
Falar de como o céu não é mais tão azul quanto na infância,
Quando as nuvens se desenhavam em elefantes e anjos.
Tenho, sim, palavras guardadas na mente,
Aguardando o momento certo para saírem pela garganta,
Esperando qualquer gatilho.
Mas tudo parece calmo, creio eu.
Que estranho, sinto tanta falta de escrever.
Talvez sobre as durezas e atrocidades da vida?
Só que, nas últimas noites,
Somente as batidas do meu coração gritam
Dentro de um silêncio aconchegante, mas, ás vezes, angustiante.
Acho que acabo de acalmar uma parte da minha saudade.
N.