CARTA AO TEMPO( NÃO DÁ PARA PARAR)
Não dá para parar
Mesmo que os olhos vejam tão devagar
E que as mãos tão ofegantes
Expressem tremores tão constantes.
Não dá para parar
Ainda que os lábios
não mastiguem mais os verbos
Já dissonantes.
E que a voz seja notas desencontradas
De melodias tão caladas.
Ainda não dá para parar...
Mesmo que os passos
Não levem a nenhum lugar
E que a realidade seja somente
Um pensamento a divagar
E que os olhares duvidem e acreditem
Que não há mais nada o que falar
Mesmo que os ouvidos
Estejam só pela metade
E o corpo deseje apenas a caridade
De um bastão a segurar.
Mas, ainda não dá para parar
Porque o coração
ainda em movimento
Pulsa como a intrepidez do vento
E não cala o sentimento
Mesmo que os olhos
busquem o firmamento
E o corpo e também a alma
Mesmo numa impetuosa calma
Estejam lânguidos a soprar
E o horizonte já tão próximo
Esteja a despontar.