belleisart

deixando a roleta virar

minha mente está no ápice.

 

se houvesse altura suficiente pulava da janela,

mas minha casa é térrea.

já pensaram o quão ridículo seria morrer por tal queda?

eu penso bastante nisso.

 

eu também imagino a dor que deve ser morrer de alta queda.

além da imagem feia que fica no final,

a dor de se desmembrar no chão deve ser horrível.

me pego pensando se vale a pena ter uma morte tão feia.

não seria muito mais bonito morrer dormindo, por exemplo?

 

bom, eu não sei,

só sei que isso não sai da minha cabeça.

 

eu não quero morrer,

mas também não quero viver,

isso não faz muito sentido faz?

 

acho que nada faz muito sentido,

basta olharmos no jornal.

tantas guerras, fome e milhões de outras coisas a troco de que?

 

a gente vive pra morrer,

mas de que adianta chegar na hora da morte sem ter,

de fato,

vivido?

 

eu não sei a resposta para isso.

 

queria não sentir tanto cada pequena coisinha,

acho que se não sentisse nada as coisas seriam mais fáceis.

 

tem dias que me pego olhando por meu teto branco e sem graça pensando:

 

qual uma morte rápida,

fácil 

e digna que eu possa ter?

 

honestamente, no momento, nenhuma.

 

quero completar minha missão aqui em terra,

fazer algo bom pelos outros,

mas nossa, porque não tinha aviso prévio sobre o quão difícil é viver?

 

eu não vivi minha infância,

muito menos estou vivendo minha adolescência,

quem dirá quando for adulta.

 

não seria mais fácil se tudo só acabasse?

 

eu ia sofrer sabendo que aqueles que me amam sofrem,

mas eu teria que averiguar qual sofrimentos é maior:

 

o meu aqui, ou o meu lá.

 

infelizmente ou felizmente, 

parece que deus não me deixa ir por nada,

não importa o quão absurdas as coisas que eu faça para ir embora.

 

não sei se fico com raiva ou grata,

é uma mistura.

 

tem tanta coisa que eu quero fazer,

mas nem nelas eu vejo mais razão.

 

eu só estou aqui ainda porque quero fazer pelos outros o que eu não pude fazer por mim.

 

se me permitissem,

já teria ido a muito tempo,

com ou sem permissão.

 

minha mente está no ápice

irei deixar essa roleta suicida decidir 

se vou 

ou se fico.