O neurônio onde tu estavas
no hipocampo da memória
desapareceu e não o acho mais
no universo das minhas tantas sinapses
Já remexi todos meus lobos temporais
catei por aqui, por ali e por acolá
e nada de reencontrar o neurônio
onde teu rosto e teu nome guardei
Percorri por milhões de lembranças
desengavetei as memórias explícitas
inclusive nas implícitas espreitei e bisbilhotei
nas em nenhum lugar em mim te encontrei
Até achei teu par de sapato-alto vermelhos
sobre os quais dançastes a valsa dos meus delírios
o aroma floral e refrescante do teu pescoço
e o sabor mentolado da pastilha Halls que usavas
Na morfologia abstrata das minhas lembranças
sobrou de ti alguns objetos, gostos e cheiros
até a idade em que pensava te amar
para além da minha própria eternidade
Estranho essa lacuna que trago
vazia, inominada e sem rosto
de um amor que agora é para mim
assim tão passageiro e deslembrado