Pediste-me para desabafar,
então aqui vai:
não sei se a vida faz sentido,
ou se somos nós que tentamos
dar-lhe um quando já é tarde demais.
Há dias em que tudo parece pesado,
mesmo o que deveria ser leve.
E não é o trabalho, nem o mundo lá fora.
É cá dentro.
Uma espécie de vazio,
mas não de falta —
um vazio de excesso.
Como se houvesse tanto a sentir
que acabei por não sentir nada.
Vivo a pensar no amanhã,
mas o amanhã nunca chega,
e o hoje parece sempre uma espera
para algo que não sei se quero ou preciso.
Sabes o que é mais estranho?
Ninguém nos ensina como parar,
como simplesmente estar.
Estamos sempre a correr,
sempre a procurar respostas,
mas e se as perguntas forem erradas?
Disseste para desabafar,
mas há coisas que nem eu sei dizer.
Às vezes sinto que ando
numa espécie de labirinto,
a seguir um caminho que já foi traçado,
mas que nunca escolhi realmente.
Há uma expectativa
que nos acompanha desde cedo,
como se tivéssemos que ser algo,
alcançar algo,
e, se falhamos nisso,
falhámos na vida.
Mas quem decidiu o que é o sucesso?
Quem disse que devemos ser mais
do que aquilo que já somos?
Pediste-me para desabafar,
e eu desabafo:
tenho medo de não chegar a lado nenhum,
mas mais medo ainda de seguir
um caminho que não é o meu.
Queria encontrar paz nas coisas simples,
mas parece que até isso nos exigem —
sermos tranquilos, sermos equilibrados,
como se fosse uma regra.
E quando te falam de felicidade,
parece sempre uma meta distante,
um lugar que outros encontraram,
mas tu não.
E se a felicidade fosse apenas
um momento,
um minuto em que tudo parece certo
e depois volta o caos?
Talvez a vida seja isso:
pequenos intervalos de paz,
espaços curtos de clareza
no meio de toda esta confusão.
Agora que desabafei,
não tenho respostas.
Só sei que continuo,
porque parar parece impossível,
e continuar é o que nos resta.