Vasco Alberto

Disseste que me amavas

Disseste que me amavas
como se o amor fosse uma promessa simples,  
um caminho certo que bastava seguir.  
Mas amar não é dizer,  
não é fazer caber em palavras  
o que a vida nunca nos ensina por inteiro.  


  
Amar é mais do que dar,  
é mais do que pedir,  
é ver o outro no silêncio,  
no espaço entre aquilo que somos  
e o que nunca seremos.  


  
Disseste que me amavas,  
e eu acreditei,  
não porque fosse verdade,  
mas porque queria que fosse.  
Há momentos em que o desejo confunde-se
com o que é real,  
e o que sentimos parece maior  
do que o tempo em que dura.  


  
Mas o amor não é feito de instantes,  
não é feito de promessas.  
O amor é uma linha fina  
que nem sempre sabemos como segurar,  
e por vezes escapa,  
mesmo quando apertamos com força.  


  
Não te culpo por o dizeres,  
nem por acreditares no que dizias.  
Também eu quis acreditar.  
Também eu me agarrei  
ao que parecia firme.  
Mas o amor, se existe,  
não se diz.  
Vive no que não podemos explicar,  
no que se sente quando já não há mais nada a dizer.  
  
Disseste que me amavas,  
mas o amor verdadeiro não se prende a palavras.  
Ele vive nos dias que passam  
sem exigências,  
nos olhares que não pedem.  
Vive no respeito pelo que não somos,  
na aceitação do que nunca seremos.  
  
Se ainda há amor,  
não sei.  
Talvez seja isso o amor:  
essa dúvida que nunca se dissipa,  
essa certeza que nunca chega.  
  
Mas disseste que me amavas,  
e eu ouvi.  
Ouvi como quem escuta uma verdade  
que não pode provar.  
E talvez, por isso,  
ainda te ame também.