Muitas vezes eu sonho um sonho louco,
um sonho que me envolve pouco a pouco,
e, à mi! alma mostra cena sem par...
Me vejo só, andando entre vielas,
e, sob a luz de lampiões a velas,
vou indo com destino a algum lugar...
Meu costume é dum verde aveludado,
que agasalha alva bata de brocado,
e, as negras botinas da austeridade...
No porte eu carrego um ar de nobreza
e, dentro d’alma, a sólida certeza
de que vivo intensa realidade...
O estilo barroco das construções
não me espanta, e nem as emanações
que voejam no ar me causam medo...
Traz um mistério a noite enluarada,
e, uma intuição, estranha e velada,
lembra trama de inolvidável enredo...
Se me depara um casarão austero...
Meu peito agita, e os passos acelero,
qual me espreitassem sombras num levante...
Mas, sei que preciso seguir em frente...
É urgente e necessário que eu tente,
e, então eu sigo sempre confiante...
Entro e vejo que, em meio a realeza,
sob o som duma valsa vianesa,
pares rodopiam alegremente...
Sei que pertenço àquela sociedade,
que canta, dança e ri em irmandade
mas, não paro, quero seguir somente...
A escadaria, além, é trabalhada,
elegante, em linda forma entalhada...
Subo, pois sei que lá é o meu destino...
Paro à porta majestosa e me ufano
Penso que vou desvendar um arcano
porém, sempre desperto, repentino...
E volto à realidade do presente,
trazendo dentro d! Alma ainda rente
uma impressão deveras singular!
E, de olhar perdido na escuridão,
indago aos céus em forma de oração:
Onde eu vivi tal cena secular?