Sezar Kosta

NAQUELA TARDE

Naquela tarde,

você encontrou um banco,

em um parque, quando quase cochilava.

O céu, uma aquarela de laranja e rosa,

sussurrava ao vento: \"pare um instante\".

E você parou.

 

Crianças corriam,

mas o que realmente corria era o tempo.

Um menino, em sua alegria sem freio,

perseguia um pombo,

rindo com a pureza que só os pequenos conhecem.

E, por um segundo, você lembrou:

o que é simples também transborda.

 

Uma senhora,

cabelos de prata que o outono invejava,

sentou-se ao seu lado.

Ela não era uma estranha, não naquele momento.

Com um olhar que conhecia o ritmo das estações,

ela falou de folhas que caíam,

sem pressa, como se dançassem.

Cada folha um adeus,

mas também um renascer.

E você ouviu,

como se aquelas palavras fossem ditas para sua alma:

\"Às vezes, é preciso soltar,

deixar que a vida siga seu curso.\"

 

O crepúsculo,

que antes era cor,

agora se vestia de noite.

Mas a escuridão não assustava,

ela abraçava.

Você respirou fundo,

como se o ar daquele instante fosse diferente,

mais leve, mais sereno.

Era o momento de absorver,

de escutar o silêncio

e todas as respostas que ele traz.

 

Ao se levantar,

algo em você também se levantou.

Não era apenas o corpo,

era o espírito que agora compreendia:

mesmo em meio à pressa,

há sempre um canto,

um banco esquecido,

onde a quietude ainda canta

e nos lembra que viver é mais

do que correr.

 

E você sorriu,

pois naquele pequeno espaço de tempo,

a vida se mostrou inteira.