Levanto-me sem saber quem sou,
Nesta casa estranha, neste lugar sem cor.
A última lembrança que me restou
Foi o ato de respirar com ardor.
Mas agora não respiro, não há ar a me envolver,
Como se meus pulmões tivessem se esvaído,
Como se meu corpo, em desvanecer,
Se tornasse um vulto esmaecido.
Olho minhas mãos, vejo-as transparentes,
Compreendo então minha condição ausente,
Sou apenas um eco do que fui antes,
Uma sombra vazia, um ser inexistente.
Caminho lá fora e contemplo o que restou,
Um mundo distinto, em silêncio e solidão,
Onde não há bem, nem mal, onde tudo se esvaiu,
Uma sensação indesejada toma meu coração.
Estarei morto, será essa a verdade?
Uma alma translúcida se aproxima de mim,
Prometendo mostrar a realidade da eternidade,
Revelando minha vida, meu destino enfim.
Vejo diante de mim, em um giro surreal,
Minha existência marcada pelo ódio e dor,
Assassinatos que mancharam meu ideal,
Orgulho nenhum, apenas um sentimento de torpor.
Não sei por que me tornei tão vil,
Preciso redimir-me, buscar a salvação,
Mas a alma estranha me diz com perfil:
\"Em outro mundo estás, sem pecado ou perdão.\"
Nesse plano onde erros não existem,
O ciclo das almas segue seu curso,
Sem culpa ou remorso que persistem,
Apenas a jornada, sem pecado imerso.
Para reencarnar e ser alguém diverso,
Devo aceitar a redenção no coração.
Porém, minha escolha é permanecer imerso,
Pagando assim por minha vil transgressão.
Decido ficar, pagar por meus atos impuros,
Recusando o retorno ao mundo dos vivos.
Vagueio sem rumo, em penumbra e murmúrios,
Uma alma solitária, em um destino furtivo.