L.S.Alexandre

Levanto-me sem saber quem sou

Levanto-me sem saber quem sou,

Nesta casa estranha, neste lugar sem cor.

A última lembrança que me restou

Foi o ato de respirar com ardor.

 

Mas agora não respiro, não há ar a me envolver,

Como se meus pulmões tivessem se esvaído,

Como se meu corpo, em desvanecer,

Se tornasse um vulto esmaecido.

 

Olho minhas mãos, vejo-as transparentes,

Compreendo então minha condição ausente,

Sou apenas um eco do que fui antes,

Uma sombra vazia, um ser inexistente.

 

Caminho lá fora e contemplo o que restou,

Um mundo distinto, em silêncio e solidão,

Onde não há bem, nem mal, onde tudo se esvaiu,

Uma sensação indesejada toma meu coração.

 

Estarei morto, será essa a verdade?

Uma alma translúcida se aproxima de mim,

Prometendo mostrar a realidade da eternidade,

Revelando minha vida, meu destino enfim.

 

Vejo diante de mim, em um giro surreal,

Minha existência marcada pelo ódio e dor,

Assassinatos que mancharam meu ideal,

Orgulho nenhum, apenas um sentimento de torpor.

 

Não sei por que me tornei tão vil,

Preciso redimir-me, buscar a salvação,

Mas a alma estranha me diz com perfil:

\"Em outro mundo estás, sem pecado ou perdão.\"

 

Nesse plano onde erros não existem,

O ciclo das almas segue seu curso,

Sem culpa ou remorso que persistem,

Apenas a jornada, sem pecado imerso.

 

Para reencarnar e ser alguém diverso,

Devo aceitar a redenção no coração.

Porém, minha escolha é permanecer imerso,

Pagando assim por minha vil transgressão.

 

Decido ficar, pagar por meus atos impuros,

Recusando o retorno ao mundo dos vivos.

Vagueio sem rumo, em penumbra e murmúrios,

Uma alma solitária, em um destino furtivo.