há uma gente que carrega nos bolsos o tempo
misturado com migalhas de memórias partidas
e conhece palavras que com assopro definham
e histórias que surgem de velas que se apagam
há uma gente que fala com pássaros e árvores
que dá bom dia ao vento, que o toma pela mão
que cultiva o silêncio das tábuas duma varanda
e se balança, pro pensamento não ficar parado
gente que traz nas rugas o mapa dos caminhos
onde já nem mais trilha, e se vai é de mansinho
pois aprendeu a calma dos bichos mais antigos
e imita das pedras a sabedoria que sabe que há
ah, essa gente... que vive de pequenos encantos
é folha seca que ensina uma dança enquanto cai
é sacratíssimo rio que corre dentro de si mesmo
desaguando sonhos num mar de esquecimentos
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 30/08/24 --