Ouvi, ó deuses dos céus e reis da terra,
A história de um coração que já foi de aço,
Mas que, por um capricho do destino,
Se partiu e sangrou num triste compasso.Frio era meu ser, feito pedra e gelo,
Sem toque de ternura, sem espaço para amar,
Até que ela veio, com sua graça e zelo,
E fez meu peito, outra vez, pulsar.Ah, mas a ilusão é uma lâmina traiçoeira,
Que corta o tolo que ousa nela crer,
Pois ela veio como estrela passageira,
E partiu, deixando-me a padecer.O que é o amor senão um jogo cruel,
Onde o perdedor é o que mais entrega?
Eu, que fui sólido como o mais forte fel,
Agora sou sombra que à dor se apega.Recordo-me de seu olhar, que me acendeu,
De suas palavras doces, que me encantaram,
Mas, como o orvalho que cedo se perdeu,
Ela desapareceu, e meus sonhos desabaram.Agora, vaga o meu espírito sem direção,
Numa noite sem fim, sem um farol,
Com medo de que cada nova emoção,
Seja um novo veneno, um novo anzol.Ó céus, por que a mim reservastes tal sorte,
De conhecer o amor apenas para perdê-lo?
De ver a luz apenas antes da morte,
E depois ser condenado a nunca mais vê-lo?Que este lamento ecoe pelos séculos,
Que todos saibam da minha desventura,
Pois é a dor de quem ama e se entrega,
E vê seu coração, de novo, em ruptura.
Isaac silva