Talvez seja melhor parar de ameaçar
Ameaçar que digo, ameaçar que faço
Ameaçar que abraço ameaçar que finto o destino
Ameaçar que me apaixono, ameaçar que falo
Talvez seja melhor me calar
Porque calado sou um poeta
E quem nunca se calou por medo de falar?
E quem nunca se calou por medo do que pudesse vir a fazer?
Talvez seja melhor parar de ameaçar
Ameaçar que imagino, ameaçar que crio um laço
Ameaçar que traço o meu caminho,
Ameaçar que abandono este mundo louco, ameaçar que me mato
Talvez seja melhor eu atuar
Porque extrovertido eu sou um dispoeta
E quem nunca atuou por não ter medo do que os outros vão pensar
E quem nunca atuou porque não tem medo de como pode acabar
Preso a uma cadeira de rodas, indefeso e cheio de nódoas negras
Impotente, sem poder ajudar outras pessoas com a mesma vertente
Talvez seja melhor, observar e calar, guardar tudo para mim
Engolir essa vontade louca de agir
Engolir essa maldade que não é tão pouca assim
Engolir esta beldade que é a vida a sorrir
Engolir essa vivacidade que é a vida a fingir
Talvez seja melhor contar com o pior
E cair na real, eu não sou eterno
Parece surreal mas tudo tem um fim
E não é tão distante assim
Já esteve mais longe, está cada vez mais perto
É o meu amor secreto a pairar no ar
Um dia ganhou asas e começou a voar
Sem data de regresso
Talvez seja melhor ir ao sabor do vento
Se ele diz vai por ali é por ali mesmo
Que eu vou sem tempo ou contratempo
Já deixou de ser segredo
O sentimento que guardo no meu coração
É um misto, é amor misturado com tristeza
É desejo misturado com satisfação
É nojo misturado com surpresa
Quem quer saber, são folhas soltas
Palavras que não são levadas a sério
Porque nelas não há um mistério
Se eu não ameaço sou fraco
Se eu não ameaço eu não ataco
Se eu não ameaçar neste lugar opaco
Se eu não ameaçar arranjo um buraco para me enfiar
Para me enfiar de vergonha
Porque homem que não sonha
É o mesmo homem que se amedronta
Quando a sombra lhe faz sombra
Talvez seja melhor ficar parado a olhar
A chorar pelo leite derramado
O leite derrama por toda parte
Já não sei se isto é arte
Se é uma forma de combate
Para acabar o massacre
Se assim for, espero que o meu leite se espalhe
Se espalhe pelas ruas, leite branco, leite com chocolate
E que todos sofram um ataque
A cada gole do pacote
A cada gole do pacote
A cada gole do pacote
Já não há sol no horizonte
Está tudo a desmoronar
Cada ponte para cada noite
Cada noite mal dormida
Cada história mal vivida
É apenas mais uma na minha vida
Já não sei porque ameaço, ninguém leva o meu x-zato a sério
No momento exato, no momento em que desato a chorar
Consumido pelo meu ar devastado, agora zangado
A disparar para todo lado, é aqui, é no átrio da escola
Porque a cena não rola
Porque a cena não rola
Porque a cena não rola mais
Porque eu ameaço, mas logo tiro do castigo
Porque eu ameaço mas logo me retiro do postigo
Porque eu ameaço mas logo me irrito comigo
Porque eu ameaço mas logo humilho-me
Porque logo eu grito, um grito de revolta
Porque logo eu grito um grito que não tem volta
Porque logo eu grito um grito que me deixa a girar
É já quase a cair no chão que eu imploro
Imploro por ter ameaçado e não ter passado á ação
Imploro por ter ameaçado e ter ficado sem reação
Imploro por ter ameaçado acabar com a guerra
Imploro por ter ameaçado começar uma nova era
Imploro por ter ameaçado ficar na idade moderna
Imploro por ter ameaçado porque estava na idade média