Nelson de Medeiros

DOR INFINDA

São seis horas... E vão passando sonolentas...

Morre a tarde em langor suave e vaporoso...

No campanário, o sino, em badaladas lentas,

executa a Ave-Maria, quase choroso...

 

A noite nasce em meio a nuvens opulentas...

Formam, ante os olhos do vate, curioso,

uma figura que, entre pratas e magentas,

mostra a imagem do teu rosto lindo e sedoso...

 

A saudade antiga, então, se me abriga n’alma...

  Nem a lembrança do teu riso já me acalma

Mas, o teu beijo e o teu perfume eu sinto ainda!

 

Vem novamente a madrugada e nasce o dia...

A tarde volta langorosa e luzidia

e, a noite vem trazendo a mesma dor infinda!