Filha de Caim

Lar

 

Se eu pudesse, viveria na bagunça 

No meio da imundície

Da lama e da grama,

No meio da sujeira

De mosca e de varejeira

Entre vários restos em decomposição

A perfeição é uma nojeira.

 

O lado de fora age como um espelho

Refletindo o que vê dentro

Com mancha em vermelho

Coisa confusa jamais dita

Emoção presa jamais sentida

Tem razão mãe, sou maldita

 

Se eu pudesse, sairia da bagunça

Porém ela me prende

É reconfortante aqui

Me sinto melhor do que ali

Mais importante do que lá

Vem mais pra cá

Fique ao meu lado, assim diminui o estrago

 

Eu não posso limpar, este é meu lar

Estes vermes em mim estão a me ajudar

Eles me devoram aos poucos mas...

Teu alvoroço me esquenta

Aconchega minha carne fria

Eu sei que no final, meu pobre carnal estará igual aos meus anteriores

Secos, frios e sem vida

Ainda me lembro da sensação deles se mechendo nestes e me esquentando

Dói muito porém daria muito trabalho limpar

Eles sabem que eu gosto, por isso fazem.

 

Minha carne com vermes apodrece

E eu já estou coberta por eles

Estou podre há um tempo

Deixe-me decompor

Eu estou com

pavor.