ALLAN LINCK

O MURO BRANCO

O MURO BRANCO

Sentava ali, com velhos amigos, em frente à minha casa,

Onde havia um muro de ferro com aproximadamente 1,10cm de altura...

Sua cor cinza, muito gasta, deixava transparecer a ferrugem que já tomava conta quase que por completo...

Precisava ser substituído, mas mesmo assim, fazíamos nossas reuniões escorados nele.

O aparelho de som, com o volume máximo, tocava as canções preferidas de cada um...

Nem o barulho ensurdecedor dos veículos que transitavam pela avenida era capaz de desanimar qualquer componente...

Com muita cerveja, vinho, uísque ou, até mesmo, a tradicional caipirinha, recordávamos os melhores momentos de nossas vidas.

Éramos a turma da esquina.

Era inverno, um vento forte e frio soprava em nossa direção.

Uma leve garoa, típica de inverno, não nos assustava.

Ficávamos ali, firmes, em pé, sentados ou escorados...

Mas não saíamos...

As pessoas que por aquele caminho cruzavam, olhavam estarrecidas, como que reprovando nossa atitude.

Eu, com meu casaco preto, sapatos bico fino pretos, camisa e calças cinza, completava o excêntrico(diziam alguns), traje com um chapéu de feltro, também preto.

Os outros, como de costume, vinham de tênis, calças “DINS”, camiseta e uma blusa de lã, para amenizar o frio.

Vez ou outra entrávamos em casa para, sentados à minha bateria(meu instrumento preferido), ver e ouvir quem acompanhava melhor as músicas do disco.

Quando íamos à frente, outra vez, longas conversas surgiam.

Contemplávamos a cidade que, diga-se de passagem, não tinha nenhum atrativo especial.

Mas o prazer pela conversa, pela bebida, pela música e o fato de saber que, a olhos estranhos, éramos excêntricos, satisfazia nosso ego.

E sabíamos que, pelo menos por alguns instantes, éramos importantes, pois chamávamos a atenção alheia...

Eu pensava comigo mesmo o quanto eram bons aqueles momentos...

Todos com sonhos, ilusões e fantasias que eu sabia, um dia iriam terminar...

Sentia doer a alma, o espírito e o coração.

Rezava a Deus para que aquilo nunca tivesse fim...

Mas teve!

Passaram-se os anos, e com eles a juventude, a energia, a vida...

Os anos acabaram com tudo, até mesmo com a turma da esquina...

Hoje, cada um para o seu lado, viver sua vida e eu, como não poderia deixar de ser, completamente só,limitado a escrever sobre meu passado.

Meu vinte anos de boy, tha’s over baby, that’s over!

Já tenho 61, e meu futuro chegou.

Abro a janela e a porta e, sentado ao sofá, contemplo a verde grama de meu pequeno jardim...

Vou contando os dias e meses, na expectativa de ver e sentir o inverno chegar.

Ouço antigas canções, dou asas à imaginação, viajo com ela...

Ensaio meu canto, entreolhando pela janela...

Recordo a turma da esquina, os vizinhos, os estranhos...

A cerveja, o vinho, o uísque, o conhaque e a caipirinha...

Os sonhos, ilusões e fantasias...

Penso em tudo o que passou, mas que nunca esqueci e, tenho certeza, jamais irei esquecer...

A alma, o espírito e o coração doem muito mais do que antes e...Só Deus sabe o quanto,

O quanto de tristeza e melancolia, por trás deste muro branco...

REGISTRO NÚMERO 194225-20180710122951, EM MUSICASREGISTRADAS.COM, EM 11 DE JULHO DE 2014.