Carlos Lucena

DA NARCOSE A INSPIRAÇÃO

DA NARCOSE A INSPIRAÇÃO

Abro a janela
E preciso descortinar os umbrais das portas mudas.
Meu coração está frio
Preciso descongelar o sangue
E tirar as nuvens
Que encobrem as névoas pálidas das minhas veias.
A ânsia seca do peito vazio me enerva o cérebro e, da janela procuro a inspiração
Que ainda não pari.
De vez em quando aborto
Palavras estranguladas
Pela secura de versos que não escrevi .
Mas da janela observo Noites
Dias
Flores
Luas e sois
Pássaros
Cores
Amores.
Enfim, descongela-se
Tudo que parecia imutável.
E o transe cataléptico
E sua narcose
Se dispersa
Aí gesto a poesia
Que não nascia!