Antonio Aurelio Felix

ASSIM É O SERTANEJO

Seu doutor,tô na cidade

Mas eu não gosto

Lhe peço por caridade

Veja a tristeza em meu  rosto.

 

 

Sou nascido no Sertão

Fui criado na caatinga,

Gosto de corridas de mourão

E de um bom gole de pinga.

 

 

Tambem gosto de vaqueijada

De rapadura e caldo de cana,

De uma cabocla afamada

E da sombra do cajarana.

 

 

 

 

 

 

Já que nasci no Sertão

Nao tenho muita besteira

O que me importa então

É não abrir a porteira.

 

 

Não deixo o meu roçado

Dele não saio não

Vou morrer agarrado

No meu pedaço de chão.

 

 

A seca me castiga

Mas eu não saio daqui

Nem mesmo a fadiga

Me obriga a dessistir.

 

 

Sei que sou esquecido

Da politica do dôtor

Não trenho o merecido

Que me nega o sior.

 

 

 

 

Eu sou muito forte

E tenho bastante resistência

Nem mesmo a malvada da morte

Acaba com a minha existência.

 

 

Num tem razão seu moço

Para nós ser tratado assim

Acreditar eu não posso

Que este seja o meu fim.

 

 

No Sertão a gente fala

Cumo a gente sabe falar

Para que orguio seu moço

Se vai tudo se acabar.

 

 

Lá nós se cumprimenta

Não se nega a fala não

A amizade só aumenta

Num aperto de mão.

 

 

 

 

Num se iscoi a cor

E nem a profissão

Se o cabra for dotor

E vier visitar o sertão

Logo ele vai ver

Que mesmo sem aprender

A gente tem educação.

 

 

Seja homem ou menino

Nascido aqui no interior

Todo povo nordestino

É educado, sim sior.

 

 

Nós tem a barriga cheia

Aqui cê num passa fome

Num interessa a vida alheia

Nem a seca que tudo consome.

 

 

Sempre tem um capado

Quiné, galinha e perú

Aqui no meu roçado

Tem, pra tua familia e pra tu.

 

Samo um povo que rir

Quando tem que chorar

Nada vai nos empedir

De viver, e lutar.

 

 

Mesmo com o castigo da seca

E o despreso dos dôtor

Nós samos felizes

Com certeza, sim sior.

 

 

Assim é o meu Sertão

O meu querido lugar

Pode vim cidadão

Que vosmicê, vai se orguiar.