A desilusão do pai
A desilusão, quando dita, mata-nos por dentro,
principalmente quando é dita por um pai.
Mata-nos por saber que pode não ser verdade,
e que se for, é a maior atrocidade.
Mata-nos ainda mais se pensávamos estar a ir bem
quando para ele não passamos de algo que não o segue.
Mata-nos ainda mais quando o respeitamos mais que tudo,
e ele, raivoso, nos aponta como um fracasso.
Mata-nos ainda mais por dentro. Mata-me.
É uma autodestruição, uma aniquilação do filho ingrato,
mata-se o menino que admirava o pai.
Mata-se esse menino que admirava os ideais dele,
cria-se um rapaz sem coragem, amedrontado.
Revolto pela revolta que o pai lhe dá,
o nojo, a fúria desmedida da qual não tem culpa.
Morremos todos nós, crianças mimadas por estes pais do sacrifício,
deram tudo para nos dar tudo e depois,
quando tinham tudo nas mãos,
nos culparam por termos tudo graças a eles.
Culpam-nos da sua própria conquista,
como filhos fracos desta que é uma vida sem sentido;
quando percebemos que nunca seremos como eles,
nunca os impressionaremos porque, ao contrário deles,
sempre tivemos tudo.
12 de agosto de 2024